domingo, 19 de abril de 2015

Doze condições da luta social

Este texto foi originariamente colocado como comentário, mas a sua importância política é tão grande que o Passa Palavra decidiu convertê-lo em artigo. Esperamos assim estimular o debate sobre questões técnicas da luta social.
As quebradas [bairros populares nas periferias] são todas iguais em precariedade e para surgir uma luta são necessárias várias condições prévias.
1. Primeiro, não basta ser estrangeiro e chegar agitando na quebrada. Mesmo com a participação de gente de fora é sempre necessário que pessoas de dentro assumam as coisas.
2. Não são quaisquer pessoas que estão em condições de chamar os outros para a luta. As lutas são sempre iniciadas por pessoas que possuem uma boa carreira moral na quebrada – nos termos de Goffman -, precisam ter moral junto aos demais, respeito (viciados, vagabundos, putas e golpistas estão previamente excluídos). Sem oferecer nenhum centavo para que outros lutem, as lideranças arriscam, na verdade, as suas carreiras morais. Imaginem que morra uma criança ou ocorram outras coisas. Quem chamou o ato será cobrado [responsabilizado] nesse sentido.
3. Nenhuma liderança consegue fazer nada se não houver um clima mínimo de identidade, união e paz entre os moradores. São essa identidade e boa convivência prévia que são catalizadas. Ora, quem, num exemplo, sentir vergonha de morar num CDHU [Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano, habitação social] menos ainda vai querer se expor numa luta deste mesmo CDHU. E se as vizinhas andarem com facas a pegar umas às outras, quem as tirará para a rua juntas? Estar junto no ônibus, escola, quermesse, trem, bar, salão de beleza, igreja permite construir essa confiança mútua.
4. As lutas são ligadas a necessidades passíveis de serem supridas. Trabalhador pobre não costuma sair para a rua para salvar as onças cor de rosa ou protestar contra a invasão de um país pelos E.U.A. Querem uma escola, uma duplicação, um desconto na passagem.
5. Diferentemente do que ocorre nas lutas sem base social certa ou com base temporária – caso dos estudantes -, os populares não aceitam golpe de pauta [golpes na ordem de trabalhos] (feministas adoram dar golpe de pauta, por isso fogem das quebradas). Ou seja, se o Pedrinho resolver cobrar o Marquinho que não lhe paga ou se a Cecília resolver acertar contas conjugais no meio do ato serão devidamente informados pelos populares que aquela luta não foi organizada para tal.
6. Quem já apanhou na vida não gosta muito de ficar brincando com a questão. Assim, certas provocações bobas comuns em atos de estudantes protegidos são descartadas. Também não gostam de ficar falando em greve de fome, porque conhecem a falta de alimentos de perto ou de memória próxima.
7. As lideranças ou os mais bem instruídos são ouvidos, mas precisam ter humildade para lidar com a falta de conhecimentos gerais. Nenhum trabalhador gosta de sair para atos e reuniões onde seja exposto sem delicadeza à sua ignorância.
8. O respeito com os valores populares precisa ser grande. Não há espaço para militância ateísta nem hedonismo puro e simples.
9. Nesse tipo de luta ocorre muito de as lideranças terem que arcar com os gastos – panfletos, cartazes e outros. O militante literalmente acaba tirando dinheiro do bolso. Dinheiro é sempre um tema polêmico e se os gastos não atingirem uma soma muito alta preferem bancar [pagar] sem que se recolha alguma coisa dos moradores.
10. Não bastam os cartazes, é preciso um corpo a corpo, andar muito, falar pessoalmente com as pessoas, se expor para que elas participem. Militância de Facebook não dá conta.
11. Naturalmente, com a luta surgem os riscos, as pressões, as ameaças. Por outro lado, surgem as tentativas de cooptação. Assim como times possuem olheiros [informadores] nos campeonatos de base, políticos e organizações buscam captar militantes dentre as lideranças populares que vão surgindo.
12. Quando as coisas esquentam, é comum que muitos corram, desapareçam, deixem de participar. Nesse caso, as lideranças vão ficando mais sozinhas ante as ameaças e surgem os convites para ingressarem em dadas organizações – que lhes oferecem advogados, apoio, outros. Boa parte dos lutadores populares que conheci ou desistiram com medo das ameaças ou se juntaram a grupos para ter algum respaldo. E assim segue a roda de surgimento, cooptação ou desaparecimento de lutadores populares.
As gravuras que ilustram o artigo são do anatomista holandês Frederik Ruysch (1638-1731)
Fonte: http://passapalavra.info/2012/09/64743

MEOB: Pela verdadeira democratização da vida sindical na APEOESP.

Movimento Educadores Organizados Pela Base

Pela verdadeira democratização da vida sindical na APEOESP.

A tarefa de democratizar o sindicato extrapola a organização dos ativistas no interior dos locais de trabalho, pressupõe também a sua integração no cotidiano do sindicato. Isso implica na constituição de instâncias na entidade (conselhos de representante de escola, por exemplo) que permitem integrar os trabalhadores ao sistema de decisões. Essa tarefa só estará completa se cada trabalhador compreender a importância de construir uma entidade combativa, democrática e com independência de classe.

Independência de classe: Praticar a independência de classe é lutar contra todas as formas de exploração capitalistas, contra todas as instituições que a elite rica utiliza para violar os direitos dos trabalhadores.  Nesse sentido,  é dever de todos os  trabalhadores  construir, pela base, uma programa que ao mesmo tempo  abarque as reivindicações específicas e mínimas de cada categoria ou seguimento dos trabalhadores e  também  as demandas políticas gerais da classe rumo a uma outra sociedade sem a existência de classes.   As organizações sindicais que estão sob o controle do estado, ou em conluio com os patrões (como a CUT e a Força Sindical, por exemplo) escolhem o caminho da submissão, pois não almejam uma tomada do poder, mas apenas o de amenizar o nível de exploração sem os questionar. Dessa forma, educam os trabalhadores de que seria possível alcançar a resolução dos problemas sociais pela parceria com os patrões e governos. Faz-se necessária a organização independente dos trabalhadores contra a reação burguesa, diante dos ataques e ofensivas patronais e dos governos contra os direitos mínimos desses trabalhadores. Essa organização independente, política e sindical pressupõe uma consciência de classe e uma ação classista, do contrário, não há conquistas.

Combatividade e democracia operária: Um sindicato combativo é aquele alicerçado pela mobilização dos trabalhadores, organizado nos locais de trabalho que deve assegurar a soberania de todos seus membros, sua autodeterminação, o controle por eles, das decisões e dos encaminhamentos adotados em suas organizações e nas suas lutas. Os sindicatos combativos são escolas para os trabalhadores, pois em suas atividades cotidianas, nas mobilizações e nas greves. Tornam-se espaços de formação, aprendizados e de planejamento de suas lutas, sendo uma “treinamento” para administrar a sociedade no futuro. Esse é um princípio fundamental, pois quando o poder de decisão é tomado somente “pelo andar de cima” (direção) não demora o surgimento dos processos de burocratização e de adaptação à barbárie reinante (capitulação aos agentes partidários que capturam o estado).  

Medidas para manter o sindicato em sintonia com a base:

·         Discutir todas as demandas da categoria com os trabalhadores nos locais de trabalho.
·         É salutar que os dirigentes sindicais não fiquem muito tempo “longe” dos locais de trabalho, deve-se limitar em seus estatutos o direito de reeleição em apenas dois mandatos consecutivos. (dois anos).
·         A remuneração do dirigente não deve ser maior do que o salário que ganharia se estivesse em seu local de trabalho.
·         Construir formas colegiadas de direção, com a rotação de dirigentes nas diferentes tarefas;
·         Reproduzir ações de companheirismo e fraternidade entre seus membros, combatendo  todas as formas de discriminação racial, sexistas  e homofóbicas. 
·         Todo apoio a outras entidades e movimentos sociais devem ser aprovadas pelas instâncias de base da entidade.
·         Limitar o uso dos equipamentos e recursos da entidade somente aos membros que estão à serviço da entidade e da luta dos trabalhadores, nunca em benefício pessoal da direção ou de qualquer membro da entidade. 

Participe conosco da construção da escola pública que queremos. Sugira, critique, opine. Organize sua escola, traga propostas, ideias.

Nossos Contatos :           
E-mail: educadores.organizadospelabase@gmail.com

MEOB: Nossa leitura sobre a greve dos professores do Estado de São Paulo (iniciada em 13/03/2015)